26/11/2009

Ato falho


Eu gosto de automobilismo, independente da categoria. Faz meu gênero.

Com uma exceção: a Stock Car Brasil.

Categoria totalmente artificial, que não atrai público aos autódromos (estou falando de público pagante, não de convidados...), e que sobrevive do apoio da Globo. Apoio este que está claramente vinculado ao desempenho de um dos pilotos, Cacá Bueno, filho do do irritante Galvão Bueno.

Mais de uma vez, pilotos e donos de equipes já reclamaram, em altos brados ou veladamente, de "ajudinhas" que Cacá recebe, ou da organização ou de outros pilotos/equipes, interessados em agradar a Poderosa.

Nunca se provou nada, e fica sempre o dito pelo não dito. Até porque Cacá não chega a ser nenhum incompetente ao volante, tudo fica na conta da sorte.

Domingo passado, estava zapeando pelos canais a procura de algo para assistir quando calhou de eu dar de cara com a transmissão da corrida de Tarumã, que poderia dar mais um título à Cacá. Resolvi acompanhar por alguns instantes, até porque não havia coisa muito melhor no horário.

Coincidiu que eu começar a assistir logo após uma relargada. Cacá estava em primeiro e um dos pilotos que poderiam ainda roubar-lhe o título estava em segundo (juro que esqueci o nome dele...).

Logo depois, veio a informação de que esse piloto sofreria uma punição por ter supostamente feito uma ultrapassagem antes do permitido na relargada. O engraçado é que as imagens não deixavam isso muito claro... (Depois da prova ele reclamaria que o piloto que foi ultrapassado "tirou o pé" de repente, forçando que fosse ultrapassado).

Antes de o piloto entrar nos boxes para cumprir a punição, estourou um dos seus pneus, e ele ficou fora da prova.

O melhor de tudo foi o que aconteceu logo depois. O narrador da Globo (não era o Galvão...) saiu-se com uma pérola:

- "Tudo conspira a favor de Cacá.."

Digam-me: é ou não é um dos maiores "atos falhos" dos últimos tempos ?


22/11/2009

O milagre não veio


Repetir o milagre dois anos seguidos era mesmo querer demais.

O Fortaleza caiu para a Terceirona.

Desastre anunciado desde o início da temporada, ainda no Estadual. A diretoria totalmente perdida, sem querer assimilar as lições do ano anterior, e dando espaço aos empresários chupa-sangue, e formando um elenco, em sua maioria, incompetente e/ou descompromissado.

Não podia dar em outra coisa.

O pior é que, na comparação, o grande rival fez tudo direitinho e subiu pra 1ª Divisão.

Vai ser um longo, longuíssimo ano de 2010...

Não temos nada: time, diretoria, dinheiro...

Minto: temos algo, essencial.

A torcida.

Que vai carregar o time no colo, como em outras vezes.

Tudo o que pedimos é um pouco de consideração com a massa tricolor.

O futebol, mais do que o mundo, dá muitas voltas. Mais adiante, com certeza, vamos olhar para trás e lembrar este período como apenas "uma fase difícil", como outras que superamos.



(Sobre o tema, tem algo aqui.)

19/11/2009

Árbitros polêmicos, lá como cá


Reclamações sobre as atuações de árbitros de futebol temos desde que os filhos de Noé resolveram bater uma bolinha nos intervalos de construção da Arca.

No futebol da atualidade, com suas 328 câmeras de televisão mostrando cada detalhe, os mínimos erros dos sopradores de apito ganham enorme destaque.

O Brasileirão está sob ameaça de ser decidido pelas arbitragens, tanto por erros técnicos como por erros de interpretação.

Ontem, o árbitro de Grêmio X Palmeiras expulsou corretamente os dois jogadores palmeirenses que trocaram agressões.

Pergunta: por que o árbitro de São Paulo X Vitória, sábado passado, não fez o mesmo quando dois sãopaulinos agiram da mesma forma?

Para não dizer que o problema é só no Brasil, alguém me diga que diabo de juiz cego era aquele de França X Irlanda pelas eliminatórias da Copa... Aqueles toques de mão do Henry na jogada do gol da França são claríssimos.

Ah!, dona FIFA...



P.S. E o nosso STJD, hein? Mais pró-carioca, impossível...




12/11/2009

Fechando um ciclo

É bem comum, além de claramente compreensível, que muitos de nós usem como flagrante da passagem dos anos o crescimento dos próprios filhos. Acompanhar cada etapa da evolução deles acaba nos fazendo relembrar os nossos próprios momentos.

Olhar para os meus indomáveis rebentos em suas lutas e descobertas de cada dia mexe bastante comigo. Óbvio que quase todo pai pode (e deve) dizer a mesma coisa, Mas no meu caso a diversidade de idades, especialmente entre a caçula e os dois mais velhos, torna tudo mais colorido e desafiador.

Mas do que eu realmente gostaria de falar hoje não tem a ver com eles (pelo menos não diretamente). Tem a ver com a minha própria infância e adolescência, e como a paixão pelo futebol me impregnou de modo definitivo.

O que desencadeou essa vontade de tocar no tema foi um acontecimento triste. No último dia 09 faleceu, aos 58 anos, Francisco Gomes de Sousa, o Chinesinho, vítima de complicações advindas de uma hepatite.

Quem não é aqui da terrinha, ou não acompanhou o futebol cearense dos anos 70, provavelmente nunca ouviu falar desse volante de futebol clássico e de um pulmão invejável. Quando eu falo volante, por favor não queiram visualizar essa enxurrada de brutamontes que povoou a cabeça-de-área do futebol mundial e brasileiro nos últimos 25 anos, especialmente após a derrota da seleção de 82. Chinesinho era daqueles marcadores que raramente apelava para as faltas. Ele antecipava as jogadas, tirando partido da velocidade.

Para mim, o ponto alto de Chinesinho coincidiu com o ápice de uma das melhores equipes que o Fortaleza já formou, aquela que conquistou o bicampeonato de 1973/1974. O técnico Moésio Gomes adotou um esquema que acabou batizado por Quadrado de Ouro, por utilizar no meio-de-campo 4 jogadores diferenciados: Chinesinho, Zé Carlos, Lucinho e Amilton Melo. Um volante tipo "carregador de piano" (Chinesinho), outro volante com excelente capacidade de sair jogando e chutar em gol (Zé Carlos), um meia muito habilidoso mas também rápido (Lucinho) e outro meia para o qual o adjetivo craque não era exagerado (Amilton Melo). Tudo isso servindo dois atacantes, que poderiam ser um centro-avante ágil (como Marciano), ou um tipo "rompedor" (como Beijoca), ou ainda dois do tipo veloz (como Geraldino ou Haroldo).

Chinesinho era o último remanescente vivo daquele meio-de-campo. Todos os outros faleceram relativamente jovens.

Eu sei. Para muitos de vocês que não são fãs de futebol esse texto deve estar parecendo algo como um tratado arqueológico sobre as primeiras povoações humanas no Himalaia do Leste (desafio alguém a matar de onde tirei isso...). Um pouco de paciência, por favor, pois neste caso o futebol é apenas um meio, não um fim.

Voltando a aquela equipe de 73/74, ela me pegou bem na pré-adolescência. Eu já torcia pelo Fortaleza desde bem pequeno, mas até ali nunca havia sentido uma emoção daquele tipo que deixa marcas. O título de 73 foi gostoso, mas nada comparável ao que aconteceu em 1974.

Para ser sucinto: o grande rival venceu o 1º turno e foi para o último jogo do 2º turno jogando pelo empate. Ou seja, o bicampeonato transformou-se em algo quase inatingível.

Quase. Porque o Fortaleza venceu 3 vezes em sequência (4x0, 1X0 e 3X1), tudo no espaço de uma semana.

Imaginem agora o efeito que algo assim teve sobre aquele garoto gordinho, baixinho, de fala rápida, introspectivo e, como até hoje, passional. É daquelas coisas que ajudam a moldar que tipo de pessoa você será, e que ensina que o impossível quase nunca é tão impossível assim.

Além de ser o tipo de coisa que ajuda a apreciar aqueles momentos em que o filho homem está junto comigo, no sofá de casa, torcendo alucinadamente frente à televisão, às vezes varando a madrugada.

Para encerrar, dói um pouco escrever sobre isso nas vésperas de um possível (e provável) rebaixamento para a Série C.